Fluxo de Caixa Descontado e seu Principal Equívoco

 

Prof. Me. Wilson Alberto Zappa Hoog[i]

 

   Muito se debate hodiernamente sobre a utilidade do fluxo de caixa descontado,  o que justifica esta reflexão, que aborda a hipótese de uma  cognição epistemológica[1] a partir de uma interpretação axiológica[2] do FCD, o que demonstra verdadeiramente a essência do fluxo de caixa descontado.

   O estudo das anormalidades que se verificam na interpretação do FCD voltado à divulgação do EBITDA  de lucros e valorimetrias  de um  negócio e suas consequências, no âmbito do mundo dos negócios revelam uma patologia do FCD, portanto, a patologia é uma matéria científica que identifica, se existir, um processo destrutivo, deliberado ou não, nas informações econômicas financeiras, cujas consequências podem chegar a uma falsa percepção da real situação patrimonial, por erro gravíssimo de cognição.

   A geração de lucro é algo totalmente distinto da geração de caixa, como a remuneração de um investimento, também é algo totalmente distinto da recuperação do capital investido que ocorre pela depreciação, amortização e  exaustão. Pois utilizar um pseudo lucro antes do imposto de renda,  da contribuição social e da depreciação como critério de saúde econômico-financeira é uma ilusão, equiparada a uma falsa informação, portanto, é um crime de hermenêutica.

   E para além da distinção entre geração de caixa e geração de lucros, alertamos para a hipótese de uma falsa percepção da real situação financeira futura, pois a ocorrência de acerto ou desacerto em uma precificação, na avaliação do fluxo de caixa, decorre da probidade. A Teoria das Probabilidades, aplicada na valorimetria, verte do estudo matemático das probabilidades. Logo, representa o motivo ou indício que deixa presumir a possibilidade, ou impossibilidade da ocorrência de um fato ou fato patrimonial, por verossimilhança. A probabilidade consiste na checagem do número de casos favoráveis, constante do universo de hipóteses avaliadas, dividido pelo número de casos igualmente possíveis.

   O filosofo Karl[3] já alertava sobre o risco da ocorrência de eventos não previstos nas premissas estabelecidas para a probabilidade, conforme segue:

“A probabilidade é o número de casos favoráveis dividido pelo número de casos igualmente possíveis é de considerável interesse heurístico. A maior falha dessa definição está em que ela se aplica, digamos, aos dados homogêneos, ou simétricos, mas não abre margem para pesos diferentes nos casos possíveis.”

      HOOG e CARLIN[4] em sua doutrina informam:

Para se evitar argumentações sofismáticas[5], podemos dividir a probabilidade, no caso de fluxo de caixa descontado, em seis possiblidades mínimas ou premissas básicas, como segue:

  • 1ª hipótese: acertar a predileção;
  • 2ª hipótese: a de existir uma concorrência acirrada, que mude o market-share e o resultado da predição especulativa da valorimetria do caixa;
  • 3ª hipótese: a de existir uma depressão econômica;
  • 4ª hipótese: a de existir uma recessão econômica;
  • 5ª hipótese: a de existir uma estagnação econômica;
  • 6ª hipótese: a de não ocorrer nenhuma das alternativas anteriores, como por exemplo, a quebra do principal fornecedor ou rescisões de contrato. 

Diante destas premissas, é possível concluir que:

  1. A probabilidade de se acertar a predileção do fluxo de caixa é de apenas 16,67%, logo, de 1/6;
  2. A probabilidade de 5/6, é para se errar a predileção, logo, a possiblidade de erro é de 83,33%;
  3. Para se evitar a possibilidade de indenização, a bem da verdade científica, à luz da essência sobre a forma, e à luz da razoabilidade e proporcionalidade, que no laudo de avaliação conste de forma clara que existe uma grande probabilidade de erro na avaliação, pois esta possibilidade é relevante, a chance de erro é de 83,33%;”

   E por derradeiro, acreditamos ter mostrado, ainda que brevemente, a distinção entre lucro, resultado econômico e geração  futura de caixa resultado financeiro. Já que a concepção dos conceitos da ciência da contabilidade  é uma reposta possível para os usuários do FCD, porquanto, o combate às patologias constituem uma forma de vínculo com a realidade, deste modo, não se busca eliminar o uso do FCD, já que o estudo desta patologia, prestigia a supremacia da ciência, pois a patologia vai direcioná-las a solução que se espera dos contadores auditores e peritos pela via de um  espancamento científico puro e livre de preconceitos, interesses econômicos difusos, dogmas e de paradigmas.

    Divulgar e admitir esta informação sobre ilusionismo do fluxo de caixa descontado, é algo deveras relevante para os peritos, auditores e investidores.

    E por derradeiro, espera-se que as análises desta reflexão basilar, contribuam sobremaneira para o combate das ilusões, pela via de um aperfeiçoamento das regras de divulgação dos informações contábeis.

 

[1]  Cognição epistemológica – à luz da Teoria Pura da Contabilidade, significa tudo o que está vinculado à capacidade de adquirir conhecimento, a partir do raciocínio lógico contabilístico, que leva ao conhecimento científico, pois representa um estudo crítico das hipóteses e dos diagnósticos obtidos com os procedimentos de ceticismo na busca de uma asseguração contábil razoável, cumulativamente com a doutrina,  com os procedimentos periciais da testabilidade e da adoção de método de investigação  científico. 

[2]  Interpretação axiológica – interpretação que busca explicitar os valores que serão concretizados com o conhecimento científico.

[3]   POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.

[4]    HOOG, Wilson Alberto Zappa, Carlin Everson Luiz Breda. Valuation Manual de Avaliação Teoria e Prática. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2025.

[5]   Argumentos sofismáticos são uma forma de argumentações enganosas, pois geralmente são precedidos por premissas ou introduções supostamente verdadeiras, mas não correspondem ao universo real.

[i] Wilson A. Zappa Hoog é sócio do Laboratório de Perícia-forense arbitral Zappa Hoog & Petrenco, perito em contabilidade e mestre em direito, pesquisador, autor da Teoria Pura da Contabilidade e suas teorias auxiliares, doutrinador, epistemólogo, com 49 livros publicados, sendo que existe livro que já atingiram a marca da 17ª edição.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.

HOOG, Wilson Alberto Zappa, Carlin Everson Luiz Breda. Valuation – Manual de Avaliação Teoria e Prática. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2025.

 

As reflexões contabilísticas servem de guia referencial para a criação de conceitos, teorias e valores científicos. É o ato ou efeito do espírito de um cientista filósofo de refletir sobre o conhecimento, coisas, atos e fatos, fenômenos, representações, ideias, paradigmas, paradoxos, paralogismos, sofismas, falácias, petições de princípios e hipóteses análogas.

 

Publicado em 03/08/2025.